segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Literatura - Parte 10 - Modernismo e A Semana de Arte Moderna

X – MODERNISMO
A SEMANA DE ARTE MODERNA
Antecedentes europeus: as vanguardas -Futurismo, Cubismo, Dadaísmo (o Surrealismo não influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movimento da Antropofagia, de Oswald de Andrade.)
· Futurismo: Fundado pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os nossos modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava o "esplendor geométrico e mecânico do mundo moderno". Isso significava cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematógrafo. No plano formal, os futuristas suprimiram o eu poético, a pontuação, os adjetivos e usavam apenas o verbo no infinitivo, etc.
Antecedentes brasileiros:
· A publicação, em 1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova linguagem, ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de Almeida; Juca Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas, de Manuel Bandeira; e Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade).
· A célebre exposição de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato em seu célebre artigo Paranóia ou mistificação. Jovens artistas paulistanos saíram, então, em defesa da pintora, criando uma polêmica que os ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.
· A semana de Arte Moderna - Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana representou a ruptura barulhenta com os princípios estéticos do passado. A proposição de uma "semana" (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições, leituras, etc. O momento mais sensacional deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira: Os sapos, uma ironia corrosiva aos parnasianos que ainda dominavam o gosto do público.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
‘- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!’
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - Meu cancioneiro
É bem martelado.

Principais participantes da Semana
· Literatura: Mário de Andrade - Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia - Guilherme de Almeida
· Música e Artes Plásticas: Anita Malfatti - Di Cavalcanti – Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes.

A importância estética da Semana
A Semana significou também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por inteiro. Os autores modernistas colocaram a renovação estética acima de outras preocupações. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado.Caberia a Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:
· A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.
· A atualização intelectual com as vanguardas européias.
· O direito permanente de pesquisa e criação estética.

A Semana e a realidade brasileira
A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico, fosse no campo político.
O Modernismo de 22 a 30 ((Fase de destruição e experimentação)
O projeto dos modernistas pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam:
A) Desintegração da linguagem tradicional : Questiona-se a arte acadêmica e suas fórmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o sarcasmo.
B) Adoção das conquistas das vanguardas: liberdade de expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações desenvolvidas pelas vanguardas européias são assimiladas, ainda que desordenadamente, pela geração de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a contemporaneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus. A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.
C) Busca da expressão nacional : Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem expressar a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, o escritor se interroga: "E nós, os brasileiros, quem somos? Atrás dessa pergunta, começa a se delinear a luta por um abrasileiramento temático. Antes, as questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser também ideológicas: sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.

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A saída primitivista
O novo nacionalismo irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se o primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extra-européias. as civilizações aborígenes e também no folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura popular, quer se descobrir a essência do Brasil. Esta pesquisa de uma subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o instrumental artístico da modernidade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre o primitivo e o inovador.
Os movimentos primitivistas
1) Pau-Brasil : Lançado em março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como idéias-chave:
· A junção do moderno e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar. Pau-Brasil."
· A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar difícil."
· A luta por uma nova linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...) Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa."
· A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e ingênuo das camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. A formação étnica rica. Riqueza vegetal."

2) Antropofagia: O manifesto antropofágico, lançado em 1928, amplia as idéias do Pau-Brasil, através dos seguintes elementos:
· A insistência radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is the question".
· O humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove".
· A criação de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem repressões: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama."
· A postura antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e a pura cópia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...) Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."
Caberia a Mário de Andrade, com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a tentativa de levar para a criação literária as idéias do Manifesto.
Não esqueça: Nos anos de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares – através do Tropicalismo – voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporação de elementos da música pop internacional à música brasileira.

3) Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928) : Com a participação de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências opõem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos" através do reforço do "sentido de brasilidade" e de uma tendência conservadora e direitista no plano social.

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Características da literatura modernista
A) Liberdade de expressão
A importância maior das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da criação artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto dessa nova postura, com seu célebre verso final:“Não quero mais saber de lirismo que não é libertação”.
B) Incorporaçõa do cotidiano
O prosaico, o diário, o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova estética. À grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe a humildade do beco: “Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? / - O que eu vejo é o beco”.
C) Linguagem coloquial
A linguagem torna-se coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais, conforme se vê neste poema de Oswald de Andrade:
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
D) Inovações técnicas
· Verso livre.
· Destruição dos nexos.
· Paronomásia (junção de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente).
· Enumeração caótica.
· Colagem e montagem cinematográfica.
· Liberdade no uso dos sinais de pontuação .
Os autores de 1922
1. Oswald de Andrade (1890-1954)
Obras principais:

Poesia: Poesia do pau-brasil (192 );
Teatro: O rei da vela(1937)
Romances: Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937)
Os romances da destruição:
· Os dois romances acima (ou anti-romances) desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa, diluindo a separação entre prosa e poesia.
· Apresentam metáforas ousadas, neologismos e são totalmente fragmentários. Há uma grande quantidade de "capítulos-relâmpagos".
No conjunto, os romances de Oswald de Andrade são descontínuos e antidiscursivos, predominando neles a idéia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica do corte e da colagem dos múltiplos fragmentos.
Como registrou uma estudiosa, eles "apresentam várias modalidades de linguagem: a cotidiana, a caipira, a bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas, neologismos, palavrões, etc..."

2 - Mário de Andrade (1893-1945)
Obras principais:
Poesia:
Paulicéia desvairada (1922); Clã do jabuti (1927); Lira paulistana (1946)
A obra mais importante é Paulicéia desvairada até por causa de seu prefácio, denominado pelo autor Prefácio interessantíssimo. Nele, Mário teorizara sobre sua própria poesia e sobre as tendências modernistas do novo lirismo: "Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras freqüentam-me o livro não é porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro moderno, elas têm nele sua razão de ser."
Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Contos novos (1946); Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Macunaíma representa a adesão de Mário ao nacionalismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a rapsódia, como queria o autor) apela para o suporte mitológico: a lenda indígena de Macunaíma é a base do texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas, misturadas com os aspectos mágicos da cultura afro-brasileira, etc. O esforço de síntese percorre toda a rapsódia: síntese cultural, lingüística, geográfica, psicológica. As andanças de Macunaíma da selva à cidade, em busca da pedra mágica (o muiraquitã), roubada pelo gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os traços definidores daquilo que seria o caráter do homem brasileiro. O "herói de nossa gente" tem como características a preguiça, a irreverência, o deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, estamos frente á malandragem. Mas, de certa forma, é uma malandragem derrotada, pois Macunaíma retorna à selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus e virar constelação.
Não esqueça: Em sua linguagem tão múltipla, o relato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A carta que Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas), por exemplo, é uma paródia da retórica bacharelesca que sempre caracterizou os letrados brasileiros.
Outros autores de 1922
1) Raul Bopp - Cobra Norato (poesia)
· Vinculação à antropofagia.
· Poema baseado numa lenda amazônica
2) Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda (contos)
· Realismo irônico e sentimental.
· Valorização do imigrante italiano.
· Estilo coloquial.


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