segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Literatura - Parte 11- A Poesia Moderna

XI - A POESIA MODERNA
1. Manuel Bandeira (1886-1968)
Obras principais:
Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963)
Características gerais da poesia:
· Fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana.
· Um clima de desejo insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida que podia ter sido e que não foi."
· Os poemas Vou-me embora pra Pasárgada ("Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das três mulheres do sabonete Araxá e Estrela da manhã se inserem nesta linha do desejo insatisfeito.
· Outro tema dominante em sua poesia é o da morte.
· Bandeira é também um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e banal.
· Sua expressão poética é de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar (equivocadamente) a importância de sua própria poesia:
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não esqueça: Manuel Bandeira é o poeta que melhor realiza a síntese entre a grande tradição da lírica ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, herda os temas universais (morte, infãncia, desejo amoroso, questionamento da vida). Do modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre.

2. Cecília Meireles (1901-1964)
Obras principais:
Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); O romanceiro da Inconfidência (1953)
Características gerais:
· Uma poesia presa à tradição lírica do passado.
· Há nela forte herança simbolista: a maioria das obras expressa estados de ânimo, vagos e quase incorpóreos. Além disso, certas imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua repetição obsessiva, acabam também ganhando uma dimensão simbólica.
· Predominam os sentimentos de perda amorosa e solidão. A atmosfera de dor existencial é ampliada pela insistência no tema da passagem do tempo.
· Sua linguagem é elevada, sublime, com pouca presença do coloquial.
O romanceiro da Inconfidência: É a sua experiência poética mais significativa. Para escrevê-lo, pesquisou todos os elementos históricos que compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma poética específica do passado ibérico: o romanceiro. Trata-se de um conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema é um romance. Composto por oitenta e cinco romances, O romanceiro da Inconfidência oferece uma visão dramática e lírica da sociedade mineira do século XVIII, de suas principais figuras humanas e do levante republicano abortado pela denúncia de Joaquim Silvério:
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo
tu trais um simples Alferes...
Não esqueça: O romanceiro da Inconfidência é um texto que parte de uma reflexão sobre a história concreta do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica superior, tornando-se uma interrogação sobre o sentido das ações humanas.

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3. Mário Quintana (1906- 199)
Obras principais:
Rua dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951); O aprendiz de feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos de história sobrenatural (1976); Velório sem defunto (1990)
Características principais:
· Herança simbolista.
· Temática da morte e da tristeza das coisas.
· Linguagem de absoluta simplicidade.
A melancolia dos versos está determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivíduo percebe o fim de tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites silenciosas e de cenas surreais, indicando a herança simbolista. A idéia da morte perpassa todo o discurso poético:
Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...
Os poemas em prosa · Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H. São poemas curtos em prosa. Lembram epigramas, pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia estabelecida sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os aspectos risíveis, insólitos ou até mesmo trágicos. Manuel Bandeira denominou "quintanares" a esses poemas curtos.
· Cartaz para uma Feira do Livro.
· Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
· Indecência.
· Na verdade, a coisa mais pornográfica é a palavra 'pornografia'.

4. Jorge Lima (1893-1953)
Obras principais:
A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invensão de Orfeu (1952)
· Sua carreira poética iniciou-se sob o signo parnasiano.
· Apresenta uma fase nordestina caracterizada pela registro poético da realidade existencial, cultural e histórica da região. O popular aparece identificado com o mundo dos engenhos decadentes.
· Captação (com uma linguagem cheia de expressões populares) do saber, das crenças e dos aspectos pitorescos desse universo rural nordestino.
· Valorização da religiosidade de substrato católico.
· Teve ainda uma fase de celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro-brasileiro para conferir maior verdade antropológica e lingüística aos textos. Essa negra Fulô louva o sensualismo das escravas e virou peça antológica:
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada Fulô (...)
Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)

5. Murilo Mendes (1901-1976)
Obras principais:
Tempo e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplação de Ouro Preto (1954)
· Começa com uma poesia de inspiração modernista, em que predominava o humor.
· Depois, sua poesia assume uma dimensão religiosa, requintada e quase hermética.
· Apresenta uma linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações, uso de símbolos e alegorias e acentuada abstração da vida cotidiana.

6. Vinícius de Moraes (1913-1980)
Obras principais:
Novos poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946)
A obra de Vinícius de Moraes divide-se em duas fases:
I - A primeira fase
insere-se na linha de um neo-simbolismo, de conotações místicas, em que há um debate entre as solicitações da alma e as do corpo.
II - A segunda fase, iniciada com Cinco elegias, assinala a explosão de uma poesia mais viril. "Nela - segundo o próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil mas consciente repulsa ao idealismo dos primeiros anos."
Características principais:
· Sua tendência ao verbalismo é contida pelo uso freqüente do soneto.
· Seu grande tema é o amor. O amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo, paixão, espanto. Registra uma nova concepção sentimental, mais concreta, mais livre de preconceitos, mais atenta às mulheres. Em seus poemas, destrói noções como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em versos célebres como aquele "que seja eterno enquanto dure", extraído do Soneto da fidelidade.
· A partir dos anos de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lírica comprometida com o cotidiano, buscando inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operário em construção e Rosa de Hiroshima, cujos versos iniciais transcrevemos, são os exemplos mais conhecidos):
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Não esqueça: Além de poeta, Vinícius de Moraes trilhou com êxito a carreira de compositor de música popular, tonrando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clássicos como Garota de Ipanema e Chega de saudade. A exemplo do soneto, a canção obrigou-o a restringir seus excessos verbais.

7. Carlos Drummond de Andrade (1902-1989)
Obras principais:
Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954); Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco (1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985).
Obras em prosa: Fala, amendoeira e Cadeira de balanço (crônicas); Contos de aprendiz
Características principais:
· A multiplicidade quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se sobre sete temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial (o eu e o mundo); a poesia sobre a própria poesia; a do passado; a do amor; a do cotidiano; a da celebração dos amigos.
· A linguagem de impressionante invenção e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradição lírica ocidental (o tom sublime e elevado) quanto das experiências radicais dos vanguardistas do século XX (a dicção coloquial e prosaica). Uma linguagem capaz de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de notável riqueza polissêmica e, portanto, de não menos notável possibilidade interpretativa.
· A presença do gauche, visível no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma poesia, e que prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O gauche (esquerdo, em francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas não dão certas.
· Um intenso "humour" – um dos elementos-chave para a compreensão de sua obra – que é o humor sutil, quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado sobre a realidade e que esconde, sob o seu manto, uma complexa reflexão a respeito do sentido das coisas, conforme podemos observar em poemas célebres como Quadrilha e No meio do caminho.
· O aspecto nuclear da obra de Drummond é o da reflexão existencial. Sua poesia exprime, como nenhuma outra no país, a angústia da alma humana frente às correntezas convulsas do destino. A solidão, a incomunicabilidade, a lógica misteriosa da existência, o fluir do tempo, a relação de perdas e ganhos na trajetória do homem, a luta do ser contra a morte e a procura uma saída redentora para o indivíduo constituem os principais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos mais conhecidos é José:
E agora, José?
A festa acabou
a luz apagou
o povo sumiu
a noite esfriou
e agora José?
e agora, você?
você que é sem nome
que zomba dos outros,
você que faz versos
que ama, protesta?
e agora, José?


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