domingo, 25 de janeiro de 2009

Literatura - Parte 06 - Realismo - Naturalismo

VI - REALISMO-NATURALISMO
Surgimento: II metade do século XIX
Características do realismo:
1) Objetivismo e impessoalidade
.
2) Busca da verossimilhança: as obras devem dar a impressão de verdade total, isto é, de que constituem um reflexo perfeito da realidade.
3) Busca da perfeição formal.
4) Pessimismo: os valores burgueses e as crenças religiosas e ideológicas sofrem um processo de completo descrédito.
5) Racionalismo - cuja tradução é tanto a análise psicológica como a análise social .

Características do naturalismo
1)Arte vinculada às novas teorias científicas e ideológicas européias
(Evolucionismo, Positivismo, Determinismo, Socialismo, Medicina Experimental). Daí o outro nome do movimento, criado por Zola: romance experimental.
2) Todas as características do Realismo - menos a análise psicológica. Esta é substituída por variações deterministas que transformam os personagens em fantoches de destinos pré-estabelecidos. Segundo Taine, o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive. Pode-se dizer assim que o Naturalismo é o Realismo mais o cientificismo da II metade do século XIX.
3) Cientificismo sociológico e biológico. O sociológico é dado pelo determinismo do meio e do momento. O biológico pelo determinismo de raça e dos temperamentos e caracteres herdados.
4) Personagens patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados muitas vezes a apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados, histéricos, maníacos.
O realismo-naturalismo no Brasil
. As primeiras idéias renovadoras surgem na década de 1870, no Recife, através da ação de Tobias Barreto e Sílvio Romero.
· Em 1881 aparecem O mulato, de Aluísio Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Ainda que não sigam de todo os modelos europeus, as obras são respectivamente consideradas as inauguratórias da estética naturalista e realista no país.
O romance realista
1) Machado de Assis
1ª fase:
(Tendências indefinidas, com maior acento romântico):Ressurreição - A mão e a luva - Helena - Iaiá Garcia
· Tentativa de contrastar caracteres, conforme declaração do autor no prefácio de Ressurreição.
· Certos temas recorrentes na 2ª fase, como a ambição e o egoísmo, já se insinuam nestes romances.
· Linguagem carregada de lugares-comuns.

2ª fase: (Realista, mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus):
· Memórias póstumas de Brás Cubas:Um defunto autor, sem as ilusões e as fraudes interiores dos vivos, narra do túmulo a sua vida pregressa. Num tom irônico, ele vai descobrindo a ausência de grandeza em si e em todas as pessoas. A consciência de que as ações humanas são desencadeadas apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egoísmo e pelo instinto sexual, justifica o fim do romance, em que Brás Cubas mede sua vida e conclui que ganhara: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".
· Quincas Borba: Curioso é o personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filósofo de duvidosa sanidade mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma sátira contra todas as filosofias, é também a tradução da corrosiva visão de mundo do próprio Machado de Assis. O modesto professor Rubião recebe em Barbacena grande herança do falecido filósofo Quincas Borba, com a condição de cuidar do seu cachorro, também chamado Quincas Borba. Rubião abandona a província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um bando de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha. Sofia percebe a paixão do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade. Palha monta um negócio de exportação com o professor, o qual entra com todos os recursos financeiros para o empreendimento. Rubião, consciência estreita em demasia para a complexidade psicológica e social, nada entende. E acaba enlouquecendo. Dissipa, então, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha a sociedade, ficando com o negócio e Rubião é despachado de volta para Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. Lá morre na maior miséria.
· Dom Casmurro:Bento Santiago tenta recompor o passado através da memória, e recorda o amor adolescente por Capitu (a de "olhos oblíquos e dissimulados", "olhos de cigana", "olhos de ressaca"). Boa parte da memória de Bentinho concentra-se na adolescência dos personagens, na poesia da primeira paixão, no compromisso de casamento e em seu ingresso forçado no seminário, promessa carola de sua mãe. Depois, as ações ocorrem velozes: a amizade com Escobar, o abandono do seminário, o tão desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar com Sancha, a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a felicidade. Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia. Uma desconfiança que aumentará dia após dia, uma dialética de suspeitas e ciúmes: Bento vê no filho, Ezequiel os traços fisionômicos de Escobar. O casamento se corrói pela traição (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a Europa com o filho, impelida pelo marido que já não os aceita. Anos depois, Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o narrador, cada vez mais parecido com Escobar), vai para a África e lá também morre. O processo de desagregação de Bentinho estava concluído, restando-lhe enfrentar a solidão definitiva.
· Esaú e Jacó: Quando o Conselheiro Aires morre, encontra-se em seus papéis a narrativa em questão. É a história de dois gêmeos, Pedro e Paulo, que já brigavam no ventre da mãe e que seguem adversários na infância e na vida adulta e na maturidade. Um se forma médico, outro advogado, um ingressa no partido conservador, outro no partido liberal. Um é monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma moça, Flora. Esta oscila entre os gêmeos e termina morrendo sem optar por nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se e prometem amizade fraternal para o resto da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando mutuamente.O romance é muito lembrado por ser o único, na obra machadiana, em que fatos históricos (a Abolição e a República) têm importância no entrecho. Nos vestibulares aparece com freqüência o irônico episódio do cap. XLIX - Tabuleta velha - em que um dono de confeitaria, Custódio, em meio à confusão histórica (fim do Império, início da República) não sabe como designar a sua casa de negócios.
· Memorial de Aires:O mesmo Conselheiro Aires, diplomata aposentado, escreve o seu diário cheio de finas observações sobre a vida, num tom discreto e levemente nostálgico, abrandando aquele pessimismo dos relatos anteriores de Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memórias do conselheiro são anteriores ao romance Esaú e Jacó, do qual ele também é o narrador).O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a jovem viúva Fidélia, praticamente adotada por um casal de velhos sem filhos, Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande decepção quando um rapaz a quem se afeiçoaram, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristão, mudara-se para Lisboa com o fim de freqüentar a escola de medicina. Tristão retorna e acaba se casando com Fidélia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro Aires acompanhando com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e Carmo, no qual muito críticos viram as figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.
Os temas principais:
1 - O adultério:
Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser motivo importante de Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.
2 - O parasitismo social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas são quase todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.
3 - A confusão entre a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade são vagas e incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.
4 - O egoísmo, a vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos de Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que vivem por motivos mais nobres, em geral, são os enganados, os vencidos.
5 - A impossibilidade de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e o mesmo Rubião, veremos apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a moral das aparências.
6 - A hipocrisia: Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres possuem determinadas facetas, idéias, sentimentos, mas, para satisfazer as exigências sociais, dissimulam, falsificam a sua identidade. Trata-se de um universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é o tema do conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem tanto que os indivíduos tomam uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a julga traidora.
7 - A ambigüidade feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são impelidas a aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas como armas. Muitas vezes, são elas que conduzem os homens desencadeando crises e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição - esta última do conto Missa do galo - exemplificam este tipo de mulher.
8- O instinto e o subconsciente como móveis dos atos humanos.

voltar ao topo


Processos lingüísticos e narrativos
1 - Quebra da estrutura linear: Os romances são fragmentados por uma multiplicidade de episódios e principalmente pelas contínuas digressões do narrador, que se faz presente em todos os textos, opinando, julgando, relativizando tudo.
2 - A volubilidade do narrador: O narrador afirma uma idéia e, em seguida, a destrói. Assim ele faz com todos os sistemas e filosofias, anulando a todos. Nenhuma verdade é absoluta. Tudo depende dos interesses de cada indivíduo. Nada é eterno ou definitivo.
3 - Perfeição formal: Os textos machadianos revelam não apenas um refinamento lingüístico, mas também uma forma trabalhada, limpa, perfeita.

Características das obras
1 - Análise psicológica:
O romance de enredo linear é substituído pelo romance de digressões e situações psicológicas. Os acontecimentos exteriores, a natureza, o cenário, são descritos apenas quando provocam reações subjetivas nos personagens.
2 - Análise dos valores sociais: A crítica ao contexto social é um dos pilares das narrativas de Machado de Assis. Tem plena consciência da brutalidade do patriarcalismo brasileiro, do horror escravismo e da pequenez de nossa classe dominante. No entanto, não é um escritor de protesto. Sua análise social não aparece na superfície, está implícita no comportamento dos personagens.
3 - Pessimismo: Decorrência da constatação da falência e da degradação dos valores que regem a vida humana. O escritor assume uma posição de descrença absoluta em relação à saídas religiosas, filosóficas e ideológicas. O final de Brás Cubas é bastante conhecido: Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.(...) Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
4 - Ironia: A amargura e o desespero são tão fortes em Machado que se convertem em humor. Um humor sutil, de entrelinhas, requintado e discreto, de tal forma que os contemporâneos do escritor nunca chegaram a percebê-lo. A ironia do escritor não atinge apenas os personagens, mas os leitores e o próprio formular da narrativa.

Outras atividades:
· Além de romancista e contista, Machado de Assis deixou poemas, peças de teatro, crônicas e crítica literária.
Não esqueça: Com Machado de Assis, a literatura brasileira deixou de ser apenas uma manifestação de "cor local", paisagem e exterioridade, tornando-se uma literatura capaz de expressar de forma brasileira as contradições do homem universal.

voltar ao topo


2. Raul Pompéia: O Ateneu
· Presença de um narrador em primeira pessoa (Sérgio).
· Fortes traços autobiográficos no romance.
· Crítica ao internato e à sociedade que ela expressa.
· Registro da destruição psicológica e moral do menino Sérgio no internato.
· Corrupção do ambiente (todos os personagens se degradam).
· Mundo dominado pelo sexo, dinheiro e ânsia de poder.
· Teor caricatural (sobretudo na figura de Aristarco, o diretor do colégio).
· As impressões do passado são revividas pelo narrador.
· Inclusão do romance no Realismo (por alguns críticos).
· Inclusão do romance na estética impressionista (por outros críticos).
· Linguagem trabalhada ("prosa artística")

3. Aluísio Azevedo
· O mulato: (romance cuja ação transcorre em São Luís do Maranhão, envolvendo denúncias contra o preconceito de cor, a mediocridade da vida provinciAna e a hipocrisia do clero. Jovem mulato de origem misteriosa, Raimundo, volta a São Luís, após formar-se em Portugal, buscando os seus antepassados e uma fortuna que lhe teria sido subtraída. Termina apaixonando-se pela prima, branca e rica, Ana, e descobrindo o próprio passado. Sob a inspiração de um padre corrupto, o cônego Diogo (que estava sendo desmascarado pelo mulato), um ex-namorado de Ana assassina Raimundo. O romance acaba com a indiferença de São Luís em relação ao assassinato e o casamento de Ana com o criminoso.)
· O cortiço:
- A concepção biológica da existência - que chega ao extremo de considerar o próprio cortiço um organismo vivo, sujeito às leis evolutivas;
- A predominância do coletivo sobre o particular;
- O registro da acumulação primtiva de capital (João Romão);
- O fatalismo que condena os indivíduos a se tornarem o reflexo do cenário onde vivem: o determinismo do meio do qual Jerônimo é o maior exemplo;
- O determinismo dos instintos, traduzido especialmente por Pombinha;
- A identificação da indolência, da bagunça e da sensualidade como uma forma tropical-brasileira de ser. Um símbolo disso é a mulata Rita Baiana;
- A ótica nauseada do narrador, que transforma todas as criaturas humanas em animais;
- Algumas tiradas racistas, de acordo com os princípios "cientificistas" da época;
- A celebração de uma extraordinária força vital, de uma selvagem vibração dos instintos e de uma fervilhante alegria de existir e de sobreviver em condições tão adversas.


voltar ao topo

Nenhum comentário:

Postar um comentário