terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Nova Reforma Ortográfica - Guia prático da nova reforma ortográfica - arquivo para download

Reforma otográfica já está valendo ( retirado do site A tarde On LIne- http://www.atarde.com.br/ )

Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa entrou em vigor em 1º de janeiro, introduzindo mudanças no uso do trema, do hífen e na acentuação de palavras. A hora é de esquecer parte das regras aprendidas na escola e se adaptar às modificações, que têm por objetivo unificar a ortografia das oito nações que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP): Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Apesar das mudanças, a grafia de algumas palavras, como "reeleição", deve se manter mesmo contrariando as novas regras, que indicam a separação das letras E consecutivas por hífen. É o que deve ocorrer em casos de uso consagrado, segundo o especialista em lexicografia e membro da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, responsável por esclarecer as dúvidas que a reforma suscitar. A lista completa de exceções só deve estar disponível após a publicação do novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, prevista para até o fim de fevereiro.
Enquanto isso, é possível ir se acostumando com as novas regras. A Editora Melhoramentos colocou à disposição em seu site uma versão em PDF do Guia Prático da Nova Ortografia Michaelis, elaborado pelo professor e gramático Douglas Tufano.

Confira um resumo feito pelo A Tarde On Line ou baixe o Guia Prático da Nova Ortografia, clicando no link abaixo: http://rapidshare.com/files/190364838/Guia_da_Reforma_Ortogr_fica.pdf

RESUMO

Reforma ortográfica - saiba quais são as principais mudanças. Confira as alterações da língua portuguesa após a reforma ortográfica:

Alfabeto:

O alfabeto ganha três letras (k, y e w) Antes: 23 letras Depois: 26 letras

Trema:

O trema cai, de vez, em desuso, exceto em nomes próprios e seus derivados. Grafado nos casos em que o “u” é átono e pronunciado (que, qui, gue, gui), o sinal não será mais utilizado nas palavras da língua portuguesa. Antes: lingüiça, conseqüência, freqüência Depois: linguiça, consequência e frequência

Hífen:

O sinal não poderá ser mais usado quando a primeira palavra terminar com vogal e a segunda começar com consoante. Antes: anti-rugas, auto-retrato, ultra-som. Depois: antirrugas, autorretrato, ultrassom .

O hífen também não deve ser grafado quando a primeira palavra terminar com letra diferente da que começar a segunda. Antes: auto-estrada, infra-estrutura. Depois: autoestrada, infraestrutura.

O sinal deverá ser usado quando a palavra seguinte começa com b, h, r, m, n ou com vogal igual à última do prefixo. Antes: anti-imperialista, super-homem, inter-regional, sub-base. Depois: anti-imperialista, super-homem, inter-regional, sub-base.

Outro caso que se faz necessário o uso do hífen é quando a primeira palavra terminar com vogal ou consoante igual à letra que começar a segunda . Antes: microônibus, contraataque, microondas. Depois: micro-ônibus, contra-ataque, micro-ondas.

Acento agudo:

Os ditongos abertos “éi” e “ói” das palavras paroxítonas não serão mais acentuados. Antes: jibóia, apóio, platéia, européia. Depois: jiboia, apoio, plateia, europeia. *As palavras herói, papéis e troféu continuam sendo acentuadas porque têm a última sílaba mais forte .

O acento some também no “i” e no “u” tônicos quando vierem depois de ditongo em palavras paroxítonas . Antes: feiúra, bocaiúva. Depois: feiura, bocaiuva. * O acento permanece se o “i” ou o “u” estiverem na ultima sílaba, a exemplo de Piauí e tuiuiú Na letra “u” dos grupos que, qui, gue e gui o acento também deixa de existir. Antes: apazigúe, averigúe. Depois: apazigue, averigue.

O acento diferencial também some em alguns casos. Antes: pára, péla, pêlo, pólo, pêra. Depois: para, pela, pelo, pera. * O acento diferencial não deixa de ser usado em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente). Fôrma também continua sendo acentuada para ser diferenciada de forma.

Acento circunflexo:

O acento circunflexo some nas palavras terminadas em “êem” e “ôo”. Antes: crêem, vêem, lêem, enjôo. Depois: creem, veem, leem, enjoo.

Baixe o Guia da Reforma Ortográfica , clicando nesse link :

http://rapidshare.com/files/190364838/Guia_da_Reforma_Ortogr_fica.pdf



voltar ao topo

Literatura - Parte 15 - O teatro contemporâneo

XV- O TEATRO CONTEMPORÂNEO
1) Nelson Rodrigues (1912-1981)
Principais peças:
O crítico Sábato Magaldi estabeleceu uma divisão temática das peças:
1) Peças psicológicas
(Vestido de noiva - Viúva, porém honesta, etc.).
2) Peças míticas (Álbum de família - Senhora dos afogados).
3) Tragédias cariocas (A falecida - Beijo no asfalto - Os sete gatinhos - Boca de ouro - Toda a nudez será castigada, etc.)
· Segundo Magaldi: "As peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças míticas não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia carioca. Já a tragédia carioca assimilou o mundo psicológico e mítico da obra rodrigueana."
· Vestido de noiva : Em 1943, a encenação de Vestido de noiva renovou por completo as bases formais e ideológicas do teatro brasileiro. Nesta obra, a linguagem de Nelson Rodrigues revelava uma dimensão coloquial sem precedentes. - O aspecto renovador reside conjuntamente no fato do autor tornar-se o cronista dos traumas morais e sexuais da família tradicional. Seus personagens mantém uma conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da sociedade, cometem uma série de crimes, quase todos vinculados ao comportamento sexual. A história se passa em três níveis:
a) (realidade) Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde, é operada num hospital.
b) (alucinação) A moribunda divaga, encontrando, em seu delírio, Madame Clessi, famosa prostituta do início do século, assassinada pelo amante adolescente, e de quem Alaíde, no plano real, tinha um diário de confidências. Nesta atração, condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido, Pedro.
c) (memória) Revela-se, pouco a pouco, que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência culpada leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e Lúcia, após período de hesitação, resolve casar-se com Pedro.


voltar ao topo

Literatura - Parte 14 - A Crônica

XIV- A CRÔNICA
· Gênero literário marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diária, os acontecimentos que são marcantes no dia-a-dia.
· Fernando Sabino definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um".
. Apresenta um caráter jornalístico, desenvolvendo-se já no século XIX, com José de Alencar e Machado de Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romântico em capítulos).
· Nas décadas de 1950 e 1960, a crônica atingiu sua culminância. Estes pequenos comentários a respeito das coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e lírica, aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na crítica humorística dos acontecimentos e dos costumes.

A) Crônica lírica
1) RUBEM BRAGA (1913-1990)
Obras principais:
O conde e o passarinho(1936); Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça(1957); Ai de ti, Copacabana(1960).
· Registro da poesia oculta nos momentos mais triviais da vida diária.
· Evocação de amores perdidos e do tempo que flui.
· Celebração da beleza geográfica, humana e artística do Rio de Janeiro, ainda que com certa dimensão melancólica.

B) Crônica de Humor
Tradicional dentro do jornalismo brasileiro, a crônica de humor sempre teve larga aceitação. Poderia ser dividida (um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve - visando sobremodo o riso - e a crônica satírica, na qual o deboche atinge instituições ou figuras públicas. No primeiro grupo poderíamos destacar o nome de Fernando Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcástico, fulminando as elites intelectuais e burocráticas do Rio, na República Velha, através dos ferinos comentários de Bruzundangas (o Brasil).

1. Fernando Sabino (1923)
Obras principais:
O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975).
· O humor jovial e divertido é a marca do cronista. Muitas de suas crônicas são pequenas histórias de final surpreendente, os que as aproxima do conto.
Não esqueça: Fernando Sabino tornou-se o romancista de toda uma geração ao escrever O encontro marcado (1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideológica de três jovens em Belo Horizonte do pós-guerra, construiu um quadro simultaneamente inocente e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana dos jovens de classe média.

2. Luís Fernando Verissimo (1936)
Obras principais:
O popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das palavras (1986); Comédias da vida privada; Comédias para se ler na escola (2001)
· Criador de tipos risíveis que entram no anedotário brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado detetive Ed Mort e a Velhinha de Taubaté.
· A consolidação do sucesso de público veio com a publicação das Comédias da vida privada. São crônicas de humor retratando as contradições amorosas, sexuais, espirituais, geracionais e econômicas das classes médias urbanas, com seus pequenos dramas existenciais que se prestam mais ao humor do que à tragédia humana.


voltar ao topo

Literatura - Parte 13 - A Geração de 1945 - Poesia, Poesia Concreta e Prosa de Ficção

XIII - A Geração de 1945
Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.
I) POESIA
1. JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)
Obras principais:
Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).
· Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que a atenção, lenta, / desenrola (...)
· Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida.
· Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento: "Na paisagem do rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde a terra começa da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde começa o homem / naquele homem."
· MORTE E VIDA SEVERINA : A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
II) A POESIA CONCRETA
. A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.
· Reação contra a lírica discursiva e freqüentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:
a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial;
b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página;
c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto:
d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.
ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro

3. FERREIRA GULLAR
Obras principais:
A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)
· Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.
· Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica.
· A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade.
· Em Poema sujo, as idéias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.
C) PROSA DE FICÇÃO
A) A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL

1) JOÃO GUIMARÃES ROSA
Obras principais:
Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).
Caraterísticas básicas:
· A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim: Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária .
Observe o início de Grande sertão: veredas: “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro”.
· O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.
· A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico.
· Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.
Grande sertão veredas
· A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim:
a) Plano presente: O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.
b) Plano passado: Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

2. JOÃO UBALDO RIBEIRO (1941)
Obras principais:
Sargento Getúlio (1971); Viva o povo brasileiro
· Sargento Getúlio:Considerado sua obra-prima, narra a história de Getúlio, um sargento da Polícia Militar de um destacamento sediado em Aracaju, Sergipe. De família pobre, Getúlio trabalha como feirante e engraxate para sobreviver, tornando-se depois soldado. Tendo assassinado a mulher, que o traíra com outro, busca a proteção de um chefe político de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A mando dele executa "vinte trabalhos" (mortes). Mesmo pretendendo aposentar-se, aceita nova missão, a de prender, no interior, um adversário político do chefe. Cumprida a tarefa, Getúlio começa a viagem de retorno a Aracaju, momento em que se inicia a narração em primeira pessoa, que termina com a morte do protagonista.

B) A FICÇÃO URBANA
1. CLARICE LISPECTOR (1926-1977)
Obras principais:
Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).
Características básicas:
· É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva.
· Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens.
· No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior.
· Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.
· A hora da estrela: Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e morta por um automóvel.

2. LYGIA FAGUNDES TELLES (1923)
Obras principais:
Ciranda de pedra (1955); Verão no aquário (1963); Antes do baile verde (contos,1970); As meninas (romance,1973); Seminário dos ratos (1977); As horas nuas (1989).
· Descendente da linha aberta por Clarice Lispector, mantém o interesse pelo movimento psicológico das personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior objetividade.
· Além disso, suas narrativas publicadas a partir da década de 1970, têm apresentado uma saudável abertura para uma temática social e política, conforme podemos observar especialmente em As meninas.

3. ANTONIO CALLADO (1917-199)
Obras principais:
Quarup (1967), Reflexos do Baile (1975)
· Quarup: Através da trajetória de um padre, Nando, que perde a vocação religiosa, adquirindo em troca uma profunda consciência do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da sociedade brasileira dos anos de 1950 e 1960. Ainda que a saída ideológica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta capítulos extraordinários, destacando-se a expedição que vai ao Xingu, demarcar o ponto central do país. O contato com os índios e as conseqüentes doenças que esses contraem são inesquecíveis e por si só legitimariam Quarup.

4. DALTON TREVISAN (1925)
Obras principais:
Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitério de elefantes (1970); Os desastres do amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela, 1992).
· Sua obra é basicamente composta por contos.
· Coloca Curitiba como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos.
· Seus personagens vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados, taras, compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e infelizes compõem o seu mundo ficcional.
· Um personagem símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre vampiro de Curitiba: “Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...”

5. RUBEM FONSECA (1925)
Obras principais:
Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni (romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance -1988); Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos –1993), Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto (novela - 1997).
· Sua carreira iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu.
· Normalmente, suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da narrativa policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagenm principais ou são da polícia ou detetives particulares ou advogados criminalistas.
· Um dos temas dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada.
· O outro alvo de sua literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os protagonistas são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres parece dar-se apenas no campo sexual.
· O que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor sente-se à vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade lingüística verdadeiramente assombrosa.


voltar ao topo